Acreditar que a educação é transformadora e que as olimpíadas científicas despertam vocações, ensinam a resolver problemas complexos e mostram que a ciência é uma atividade dinâmica e criativa. Essa maneira de pensar é o que move a vida do professor Thiago Paulin Caraviello.
Sua jornada começou em 1998, na Universidade de São Paulo (USP), quando ingressou no curso de Física e se encantou pela Astronomia. Mas foi em sala de aula que descobriu sua verdadeira vocação. Por isso, concluiu a Licenciatura em Física, unindo o gosto pela docência ao fascínio pelo universo. Desde então, há 25 anos, leciona Física e Astronomia no Colégio Etapa, inspirando novas gerações de estudantes a se aventurarem pelas olimpíadas científicas.

Com o passar dos anos, Thiago percebeu uma lacuna na oferta de materiais de estudo adequados às olimpíadas de Astronomia. A literatura disponível oscilava entre textos simples demais e livros universitários muito complexos. Foi dessa necessidade que nasceu o site www.astro1.webnode.com, um espaço gratuito que reúne conteúdos voltados à preparação para a Olimpíada Brasileira de Astronomia e Astronáutica (OBA).
O site reúne apostilas teóricas de Astronomia e Astrofísica, livros de exercícios resolvidos e o Guia de Reconhecimento do Céu, baseado em cartas da Sky and Telescope e dados do site Heavens Above.
O material desenvolvido por Thiago é organizado em três níveis — iniciante, intermediário e avançado — abrangendo desde os conteúdos básicos da OBA até os treinamentos das seleções brasileiras que participam das competições internacionais OLAA (Olimpíada Latino-Americana de Astronomia e Astronáutica) e IOAA (International Olympiad on Astronomy and Astrophysics). Com uma linguagem acessível, mas sem abrir mão da profundidade científica, os materiais ajudam jovens de todo o país a se prepararem de forma autônoma, incentivando a curiosidade e o rigor acadêmico.
Em 2025, o professor atuou como líder da equipe brasileira na OLAA, função que envolve desde a organização dos treinamentos até a colaboração na elaboração e correção das provas durante o evento. Ele já participou de sete edições da OLAA e cinco da IOAA, representando o Brasil em países como Grécia, Índia, Hungria e Chile.
Entre as muitas histórias marcantes, destaca-se a de sua ex-aluna Tabata Amaral, hoje deputada federal, cuja trajetória de superação e dedicação aos estudos ele cita como exemplo de como a educação científica pode mudar destinos.
Para Thiago, o maior legado das olimpíadas está além das medalhas, elas despertam vocações. Ele incentiva professores a enxergarem as olimpíadas como uma ferramenta de engajamento e alunos a enfrentarem o desafio como uma jornada de descoberta. “Todo expert um dia foi um iniciante. A olimpíada é uma oportunidade de aprender, se superar e, principalmente, se apaixonar pelo conhecimento.”
Entrevista exclusiva da Comunidade Científica Jr com professor Thiago Paulin Caraviello
Conte um pouco sobre sua trajetória na educação, sua formação. Como nasceu o seu interesse pela Astronomia e pela Educação Científica?
Minha trajetória na educação e na Astronomia começou na Universidade de São Paulo, em 1998, no curso de bacharelado em Física. A minha paixão pelos assuntos do universo me levou a cursar a habilitação em Astronomia, porém foi a experiência em sala de aula, que comecei a ter em 2000, que definiu minha vocação. Por isso, acabei concluindo meu curso na Licenciatura em Física na USP. Há 25 anos, uno essas duas paixões lecionando Física e Astronomia no Colégio Etapa, onde tenho a oportunidade de compartilhar o fascínio pela ciência e pelo universo com meus alunos nas aulas de olimpíada.

Quando e como surgiu a ideia de criar o site com materiais voltados para a preparação da OBA? Os materiais para os estudantes são gratuitos ou são pagos? Quais tipos de materiais o senhor disponibiliza no site (apostilas, simulados, videoaulas, listas de exercícios, etc.)?
A ideia surgiu da dificuldade em encontrar materiais de estudo para as olimpíadas de Astronomia que fossem ao mesmo tempo acessíveis e aprofundados. A literatura disponível costuma oscilar entre textos muito básicos e livros universitários complexos. Meu objetivo foi criar uma ponte: um conteúdo com linguagem adequada ao ensino médio, mas sem subestimar o aluno, usando matemática e física compatíveis com a grade curricular.
Para suprir uma carência específica das provas observacionais, organizei o ‘Guia de Reconhecimento do Céu’ a partir de cartas feitas pela Sky and Telescope e dados pesquisados Havens – Above (heavens-above.com). Também escrevi quatro apostilas teóricas de Astronomia e Astrofísica, e algumas apostilas e livros de exercícios resolvidos. Todo esse material está disponível gratuitamente em: astro1.webnode.com.

Como o senhor organiza o conteúdo para abranger os diferentes níveis da OBA (Fundamental I, II e Ensino Médio)?
Eu trabalho basicamente com alunos do 9 ano do ensino fundamental e médio. O material que escrevo é adequado para esse perfil, pois estão aptos para participar do processo de seleção das equipes que vão compor as duas olimpíadas internacionais de Astronomia que o Brasil participa: a OLAA (Olimpíada Latino-Americana de Astronomia e Astronáutica) e a IOAA (International Olympiads on Astronomy and Astrophysics). O material é dividido em: iniciante, intermediário e avançado. O iniciante é adequado para a OBA (Olimpíada Brasileira de Astronomia e Astronáutica) Níveis 3 e 4 , o intermediário para a fase online da seletivas de astronomia e o avançado contempla os treinamento das equipes da OLAA e IOAA.
Como os estudantes podem acessar seus conteúdos e acompanhar as atualizações do site?
Todo o material é gratuito e está disponível em astro1.webnode.com.

Em 2025, o senhor foi líder da equipe brasileira na OLAA. Poderia nos contar qual é o papel de um líder em uma competição internacional e como foi sua atuação junto à equipe brasileira durante o evento? Já havia representado o Brasil como líder em outras olimpíadas internacionais antes da OLAA? Se sim, em quais edições ou competições e como foram essas experiências?
O líder tem diversas funções, desde organizar a documentação dos alunos até ajudar nos treinamentos antes da competição. Porém durante a OLAA, nós ajudamos a montagem das provas, aprovando as questões e fazendo ajustes. Também discutimos assuntos como: onde será a próxima sede, alterações no estatuto, intervalos das premiações, etc. No caso da OLAA, os líderes também podem ajudar nas correções das provas. Eu tenho alguma experiência em olímpiadas de astronomia. Minha primeira OLAA foi em 2012 em Barranquilha na Colômbia. Ao todo já participei, a maioria como professor observador, de 7 OLAA´s (2012 – Colômbia, 2013 – Bolívia, 2014 – Brasil, 2016 – Argentina , 2017 – Chile, 2022 – Panamá e 2025 – Brasil) e 5 IOAA´s (2013 – Grécia, 2014 – Romênia, 2016 – Índia, 2017 – Tailândia e 2019 – Hungria).
Além da OLAA e da OBA, em quais outras olimpíadas científicas o senhor atua ou já esteve envolvido?
Atuo apenas na olimpíada de Astronomia.

Ao longo de sua trajetória, houve alunos que marcaram de forma especial sua jornada nas olimpíadas? Poderia compartilhar alguns exemplos ou histórias inspiradoras?
Sim, sem dúvida! O ambiente das olimpíadas cria um vínculo único com os alunos, que vai muito além da sala de aula. Uma história que me marca profundamente é a da hoje deputada federal, Tábata Amaral. Fui professor dela por seis anos, e sua trajetória é a prova viva de que a dedicação aos estudos pode transformar destinos.
A Tábata vinha de uma família muito humilde e, mesmo com bolsa integral, enfrentava enormes desafios financeiros para se manter na escola. E há um ponto que sempre destaco para meus alunos: ela não tinha ‘facilidade com a escola’ como os alunos costumam dizer. Suas notas excelentes eram fruto de muito esforço, muita disciplina e uma resiliência admirável. Ela enxergava o contraste entre sua realidade e o ambiente escolar e canalizou toda essa motivação nos estudos, compreendendo desde cedo que a educação era o caminho para mudar sua vida. E foi exatamente isso que aconteceu. Sua história é um testemunho inspirador de superação e foco.

Que mensagem ou conselho o senhor deixaria para professores e alunos que ainda não participam das olimpíadas do conhecimento?
Na minha visão, o impacto vai muito além da medalha. A OBA e outras olimpíadas científicas funcionam como uma ferramenta poderosa para despertar e aprofundar vocações. Elas apresentam aos jovens um universo de desafios intelectuais que vão além da sala de aula, mostrando a ciência como uma atividade dinâmica e criativa. Muitos alunos descobrem sua paixão por uma área específica, como a Astronomia, justamente por conta desse estímulo. Essas competições também são um treinamento único para habilidades essenciais em qualquer carreira: a resolução de problemas complexos, o trabalho sob pressão e a gestão do tempo. Os estudantes que se envolvem no processo seletivo para as etapas internacionais, por exemplo, desenvolvem uma disciplina e uma resiliência notáveis. Por fim, vejo que essas experiências moldam networks valiosos e abrem portas. Eles conhecem outros jovens talentosos, têm contato com universidades e pesquisadores, e essa trajetória de sucesso se torna um diferencial decisivo em processos seletivos para as melhores universidades do planeta. O maior legado, portanto, não é apenas o conhecimento em si, mas a confiança e as oportunidades que ele gera.

Que mensagem ou conselho o senhor deixaria para professores e alunos que ainda não participam das olimpíadas do conhecimento?
O meu conselho é simples: encarem como uma aventura intelectual, não como uma prova. Para os professores, vejam as olimpíadas como uma ferramenta fantástica para engajar os alunos, identificar talentos e mostrar a beleza prática da sua disciplina. Não é sobre ‘vencer’, mas sobre oferecer um novo desafio. Para os alunos, deixo o mesmo convite que faço em sala de aula: arrisquem-se. A olimpíada é uma oportunidade de testar seu conhecimento, descobrir novos interesses e, o mais importante, aprender coisas incríveis que vão muito além do currículo regular. É uma experiência que aguça a curiosidade e desenvolve o raciocínio de um jeito único. Não deixem o medo ou a ideia de que é ‘só para os melhores’ ser uma barreira. Todo expert um dia foi um iniciante. O material que disponibilizo gratuitamente no meu site está aí justamente para ser esse ponto de partida acessível para todos. Bons estudos…
Conheça o site: https://astro1.webnode.page/




