Numa escola pública do interior paulista, a ciência virou arte e espetáculo. A E.E. Antônio de Almeida Prado, em Iepê-SP, abriga um dos projetos mais transformadores da educação: os Shows de Física, Química e Astro Show, idealizados pela professora Salete Battilani. Combinando conhecimento, teatro e emoção, eles vêm conquistando plateias — e corações — por onde passam.

Tudo começou com a Física
Tudo começou em 2007, com uma visita à USP. A professora Salete lembra que alunos viram uma apresentação de ciências na graduação e quiseram trazer a experiência para o ensino médio. “O primeiro Show de Física estreou durante uma visita do professor João Batista Garcia Canalle, da Olimpíada Brasileira de Astronomia. O sucesso foi imediato”, destaca Battilani.
A Astronomia brilha com reconhecimento
Inspirados, professora Salete e alunos criaram o Show de Astronomia, ou Astro Show, com apoio técnico do professor Canalle. A estreia aconteceu na UEM, diante de uma plateia de doutores. Em 2015, o grupo foi convidado pela UNESP de Bauru para o II SIFAM – Simpósio de Física, Astronomia e Meteorologia, levando sua proposta escolar ao meio acadêmico.

A trilha se completa com a Química
Movidos pelo sucesso das outras apresentações, alunos e professora investiram no Show de Química, fechando um ciclo de divulgação científica. Assim como nos outros shows, é tudo planejado para ser lúdico, interativo e envolvente, reforçando que ciências não precisam ser frias nem apenas teóricas.
Palco, ciência — e emoções
Professora Salete explica que são os alunos quem conduzem os experimentos (atrito, nitrogênio líquido, plasma, pressão, reações químicas), roteiros, iluminação, trilha sonora e até a maquiagem — e é deles também cada momento inesquecível.
Um desses episódios aconteceu no Show de Física: durante o experimento do foguete, um pedido de casamento foi feito ao vivo, emocionando a plateia. Já no Show de Astronomia, um esquecimento de fala foi contornado com improviso, e ninguém percebeu o “escorregão”.

Impacto humano e reconhecimento
Salete ressalta que os shows têm gerado reconhecimento genuíno. “Tive um aluno tão tímido que nem deixava tirar foto. Hoje, ele se apresenta em empresas de TI em São Paulo. Ainda me confidenciou que ‘se não fosse o show, não teria conseguido’”, relembra.

O projeto já formou estudantes de TI, medicina, direito, mostrando que essas experiências podem transformar trajetórias — não apenas por ensinar ciência, mas por inspirar confiança.
Uma mensagem para transformar educação
Para professora Salete, a lição é clara: ciência pode — e deve — ser divertida, acessível e humana.
“Envolver os alunos como protagonistas faz toda diferença. Use o que tem, conte histórias, coloque emoção. Transformar a escola num palco de descobertas é possível — e necessário”, defende Battilani.

Ciência em um dos cantos mais tranquilos (e esquecidos) do Brasil
O que torna essa história ainda mais inspiradora é o lugar de onde ela nasce: Iepê, uma cidadezinha no interior de São Paulo com menos de 7 mil habitantes, sem linha de ônibus regular e com apenas uma escola de ensino médio. Isolada geograficamente após a construção da Usina Capivara, a cidade virou uma espécie de “fim de linha” — um local tranquilo, onde todos se conhecem e a vida corre devagar, mas onde os jovens, ao terminarem o colegial, quase sempre precisam sair para estudar e trabalhar em outras regiões. “Aqui, você dorme de janela aberta e deixa a chave na porta”, comenta a professora Salete. Ainda assim, é também um lugar com desafios típicos do Brasil profundo: poucos recursos, limitações de transporte e oportunidades escassas.
Mesmo diante de tudo isso, o projeto floresceu — por pura persistência. Como lembra Salete, é preciso lutar contra tudo aquilo que diz que não vai dar certo. Além dos obstáculos estruturais da cidade, ela também enfrentou desafios pessoais nos últimos anos. Um deles foi o nascimento de seu neto, prematuro e com deficiência visual severa, que exige acompanhamento contínuo em Presidente Prudente, a cidade mais próxima com estrutura de saúde. “Isso tomou um tempo danado”, ela conta, explicando por que precisou pausar temporariamente as apresentações. Mas o desejo de retomar o projeto segue firme: “Convites não faltam. Falta tempo e estrutura para formar uma nova turminha. Mesmo com a pressão no sistema educacional e a escassez de professores, a semente da ciência já foi plantada — e continua a germinar”, conclui Salete.