A Física como ferramenta de encantamento e transformação. Conheça a professora Brenda Flores

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Tibérius Drumond

Consumidora de conteúdo online desde muito jovem, a professora Brenda Flores decidiu apresentar aos jovens os encantos da ciência pelas redes sociais, mostrando que aprender pode ser algo bem divertido.

Licenciada em Física e mestre em Ensino de STEM, Brenda tem se destacado não apenas pela atuação em sala de aula, mas também pelo impacto que vem promovendo na internet por meio do perfil ‘Profa. Brenda Flores’, onde compartilha vídeos com experimentos acessíveis, reflexões sobre o ensino da física de forma descomplicada, leve e inspiradora.

Brenda conta que percebeu a distância entre o conhecimento científico e o cotidiano da maioria dos brasileiros. Ela diz que seu objetivo principal sempre foi despertar a curiosidade e mostrar que entender o mundo pode ser fascinante. “Foi com esse propósito que ela encontrou nas redes sociais uma extensão do que já fazia em sala: transformar dúvidas em oportunidades de encantamento”, destaca.

O perfil no Instagram surgiu quando percebeu que sua prática poderia ultrapassar os muros da escola. “Se eu já fazia isso com meus alunos, por que não levar isso para mais pessoas?”, relembra. Com vídeos curtos, mas cheios de propósito, a professora aposta em uma ciência contextualizada, criativa e com foco no protagonismo estudantil.

Em entrevista exclusiva ao portal Comunidade Científica Jr, Brenda conta como sua trajetória acadêmica e seu compromisso com a educação a levaram a unir didática, redes sociais e ciência de maneira inovadora, aproximando adolescentes e educadores de temas que, muitas vezes, são vistos como inacessíveis.

Entrevista | Professora Brenda Flores

CCJr – Em que momento percebeu que queria unir essa formação com divulgação científica de forma lúdica?
Brenda Flores: Ao longo da minha trajetória acadêmica e a partir da minha atuação como professora e pesquisadora em Educação, ficou evidente para mim o quanto a Física e a Ciência ainda são inacessíveis para grande parte da população, especialmente em um país como o nosso. Desde o início, meu principal objetivo como educadora tem sido compartilhar esse conhecimento de forma didática e interessante, despertando a curiosidade das pessoas e mostrando como entender o mundo à nossa volta pode ser fascinante.

Além disso, eu mesma tenho o hábito de recorrer à internet, tanto para estudar e me informar quanto como forma de entretenimento. Assim, com o aumento significativo do número de usuários nas redes sociais e do tempo que esses usuários passam online, entendo que esses espaços influenciam fortemente a forma como as pessoas (os jovens em especial) pensam, se comunicam e veem o mundo. Por isso, acredito ser fundamental que tenhamos comunicadores comprometidos, capacitados e dispostos a produzir conteúdo educacional de qualidade, a fim de ampliar o acesso ao conhecimento significativo e estimular nas pessoas o desejo de aprender.

CCJr – Quando e por que você decidiu lançar o perfil “Profa. Brenda Flores” no Instagram? Houve um momento em que você pensou “esse projeto pode ajudar a descomplicar a ciência”?
Brenda Flores: Como alguém que consome conteúdo online desde muito jovem, tenho consciência do potencial das redes sociais para compartilhar informações, criar conexões e influenciar positivamente muitas pessoas. Em outras fases da minha vida, até me aventurei a criar conteúdo sobre outros assuntos, mas sentia falta de um propósito claro, algo que realmente me motivasse a continuar. Essa motivação veio com mais força quando percebi que podia usar minha formação e experiência como educadora para contribuir com um ensino de Ciências mais acessível e interessante.

Especialmente no Ensino Médio, vejo diariamente como dúvidas simples muitas vezes se tornam barreiras para o aprendizado e como uma explicação mais leve, contextualizada e próxima da realidade pode transformar a relação dos alunos com o conhecimento. Foi nesse momento que entendi que, se eu já estava fazendo isso em sala de aula, poderia também fazer fora dela e alcançar ainda mais pessoas por meio das redes sociais. Assim surgiu o perfil Profa. Brenda Flores, com o objetivo de contribuir para descomplicar a ciência, incentivar o pensamento crítico e mostrar que aprender pode ser interessante, divertido e parte do nosso dia a dia.

CCJr – Seus vídeos trazem experimentos simples, baratos e que qualquer pessoa pode reproduzir. Como é sua rotina de criação e preparação do conteúdo?
Brenda Flores: A criação do meu conteúdo está fortemente ligada à minha vivência cotidiana, especialmente às coisas que ensino e faço com meus alunos. Por isso, ideias não faltam. O que realmente falta é tempo para colocá-las em prática. Tem muita coisa legal que desenvolvo em sala e gostaria de levar para a internet, mas nem sempre consigo por causa da rotina. Atualmente, trabalho em duas escolas, com 14 turmas e mais de 400 alunos, e eles são minha prioridade. Espero que, no futuro, eu consiga me organizar melhor para também me dedicar mais à criação de conteúdo. Os experimentos, em especial, são uma parte muito forte da minha formação.

Durante a graduação, estudamos bastante sobre a importância da experimentação no ensino de Física e tivemos inúmeras aulas voltadas para isso. Em muitas delas, com acesso aos laboratórios e aos equipamentos da universidade, trabalhamos com experimentos de alto nível de complexidade e precisão na coleta de dados. Ao mesmo tempo, considerando a realidade das escolas brasileiras, também sempre fomos incentivados a construir nossos próprios experimentos, principalmente reutilizando materiais e buscando alternativas de baixo custo. Hoje, muitos dos vídeos de experimentos que compartilho são registros de aparatos construídos pelos meus próprios alunos.

Estudamos juntos a teoria, o contexto e as aplicações, mas costumo dar a eles liberdade para pesquisar e escolher as demonstrações que vão construir e apresentar para a turma. Acompanho e auxilio esse processo, mas faço questão de que sejam protagonistas. Esse formato torna a experiência muito mais significativa do que se eu apenas levasse tudo pronto. Eles precisam compreender os conceitos e fenômenos, buscar ideias de experimentos, construir, apresentar e explicar para os colegas. Essas aulas tendem a ser as favoritas das turmas. Sempre há quem surpreenda com criatividade e dedicação. Além disso, essa abordagem acaba possibilitando demonstrações muito mais diversas do que se todas fossem criadas apenas por mim.

CCJr – Como você adapta conceitos complexos de Física ou STEM para torná-los lúdicos e atrativos em vídeos curtos?
Brenda Flores: Tanto na criação de conteúdo educativo quanto nas aulas presenciais, a transposição didática é, sem dúvida, um dos maiores desafios. Adaptar conceitos complexos de forma que fiquem acessíveis e interessantes é algo com que lido diariamente em sala. Claro que, em sala, há um vínculo prévio com os alunos, e eles estão ali justamente para aprender. Ainda assim, as estratégias que uso são muito parecidas: contextualizar bem, tornar os conceitos o mais concreto e tangível possível, fazer perguntas instigadoras e, principalmente, dominar profundamente o conteúdo.

Acredito que não é possível ensinar de forma acessível e significativa sem estudar muito antes e estar realmente preparado para mostrar como aquele conhecimento está presente na nossa vida, em fenômenos da natureza e em aplicações tecnológicas, por exemplo.

CCJr – Que tipo de retorno você recebe dos seus seguidores? Tem alguma mensagem que te marcou?
Brenda Flores: Felizmente, recebo muitos feedbacks positivos, tanto de estudantes quanto de professores! Às vezes, são de pessoas que me conhecem pessoalmente e acabam também me acompanhando de forma on-line. Mas chegam muitas mensagens de quem me descobriu pelo perfil e admira o trabalho que faço.

Fico emocionada quando dizem que conseguem sentir o quanto eu acredito no que faço, que minha dedicação os inspira, que gostariam de ter tido professores com esse mesmo cuidado e paixão, além de mensagens de quem diz que meu conteúdo os motiva a estudar, a serem curiosos e a quererem entender melhor o mundo ao redor. Essas mensagens me ajudam a acreditar que estou no caminho certo e, de certa forma, renovam minha energia para continuar investindo neste projeto!

CCJr – Já percebeu algum impacto direto do seu projeto em — como alunos que se inspiraram a seguir carreira científica ou professores que adotaram seus experimentos?
Brenda Flores: Sim, já vi muitos desdobramentos que indicam um impacto bastante positivo! Recebo mensagens de seguidores que se sentiram motivados, pelos conteúdos que compartilho, a investir na carreira acadêmica. Também recebo relatos de colegas professores que replicaram as atividades, experimentos e abordagens que proponho e tiveram ótimos resultados em suas aulas.

Saber que meu trabalho consegue inspirar jovens a seguir uma trajetória científica e, ao mesmo tempo, ajudar outros educadores a inovar e qualificar suas práticas é extremamente gratificante. Isso reforça o sentido do que faço e me dá ainda mais vontade de continuar criando, compartilhando e conectando pessoas em torno da ciência.

CCJr – Além dos vídeos, você participa de eventos presenciais como feiras, workshops e oficinas?
Brenda Flores: Acredito muito no caminho que escolhi como educadora e me dedico intensamente à minha formação continuada e à construção do conhecimento, atuando não só como professora de Física e divulgadora científica, mas também como pesquisadora na área da Educação e educadora ambiental. Desde a graduação, tento aproveitar ao máximo as oportunidades que surgem para me capacitar e crescer profissionalmente, participando de eventos, cursos, palestras e oficinas, seja como ouvinte, apresentadora de trabalhos, autora de capítulos de livros e artigos ou organizadora de eventos acadêmicos e escolares.

Neste último mês, inclusive, participei da comissão organizadora e atuei como orientadora de trabalhos em uma feira de iniciação científica realizada em uma das escolas onde trabalho, fui convidada a ministrar uma palestra sobre Educação Ambiental para alunos do Ensino Médio de outra escola da região, participei como ouvinte do 18º Congresso do Ensino Privado e iniciei um curso de oratória. Essas experiências fortalecem ainda mais meu compromisso com uma educação integral, que valoriza a promoção da ciência, o desenvolvimento da consciência ambiental e a formação de cidadãos críticos, engajados e preparados para os desafios do mundo atual.

CCJr – Você planeja levar seus experimentos e dinâmicas para eventos em outras regiões ou fazer lives colaborativas?
Brenda Flores: Há, de fato, muitas possibilidades interessantes nesse sentido! Como comentei anteriormente, neste momento minha rotina está bastante centrada no trabalho que desenvolvo em sala de aula, o que acaba limitando um pouco minha disponibilidade para expandir a atuação para outras regiões. Ainda assim, sigo comprometida com o propósito de divulgar ciência de forma acessível, inspiradora e conectada à realidade dos estudantes e educadores.

Por isso, estou aberta a pensar em formas de ampliar meus contextos de atuação sempre que surgirem oportunidades, pois acredito que essas vivências são potentes para expandir o alcance do que venho construindo e contribuir com a formação de uma rede de troca e fortalecimento da educação científica.

CCJr – Quais são seus planos futuros?
Brenda Flores: Pretendo seguir no caminho que venho trilhando, buscando qualificar cada vez mais meu trabalho e contribuir de forma significativa para a sociedade por meio da educação. Tenho planos de ingressar no doutorado em Educação nos próximos anos e, possivelmente, também realizar uma especialização em Psicologia da Educação.

Quero continuar pesquisando temas ligados à Educação, atuando como professora e também como educadora ambiental, fortalecendo meu compromisso com uma formação integral e transformadora. Além disso, espero conseguir dedicar mais tempo à criação de conteúdos educacionais, ampliando meu alcance como divulgadora científica e colaborando para tornar a ciência mais acessível e inspiradora para mais pessoas.

CCJr – Pensa em desenvolver materiais extras como e‑books, kits didáticos ou parcerias com editoras?
Brenda Flores: Tenho pensado bastante sobre isso e vejo essa possibilidade como uma forma de viabilizar mais tempo e recursos para investir tanto na criação de conteúdo educacional quanto na minha qualificação acadêmica e profissional. Acredito que, em breve, devo desenvolver algum material nesse sentido, algo direto ao ponto, acessível e realmente útil, que ajude as pessoas a estudarem melhor e a se sentirem mais confiantes e protagonistas no seu processo de aprendizagem.

“Sempre indico o canal da Mari Kruger. Ela é uma grande inspiração, tem feito um trabalho de divulgação científica excepcional”

CCJr – Como você enxerga o papel dos professores criadores de conteúdo na educação científica no Brasil?
Brenda Flores: Fico muito feliz em ver cada vez mais educadores criando conteúdo para a internet! Acredito que dificilmente as pessoas vão deixar de consumir conteúdo on-line. Mais do que nunca, é fundamental que haja profissionais dispostos a contribuir com material de qualidade nesse meio. Professores capacitados e conscientes são fontes valiosas de informação e inspiração para as novas gerações.

Como nossos jovens passam cada vez mais tempo on-line, é essencial que tenhamos conteúdo relevante e bem elaborado para influenciá-los positivamente, promovendo a divulgação da ciência e combatendo as fake news e o negacionismo.

CCJr – Quais livros, canais ou referências te inspiram hoje?
Brenda Flores: Além dos livros técnicos e didáticos, sou uma grande defensora da leitura de literatura por prazer, pois acredito que ela é essencial para ampliar o repertório e estimular a criatividade. Hoje em dia, lemos cada vez menos, em parte porque a pressão por leituras úteis faz com que muitas pessoas se concentrem apenas em livros técnicos ou de autoajuda, que nem sempre conseguem prender a atenção ou despertar o interesse real. Por isso, a leitura deixa de ser um hábito prazeroso para muitos. Uma história envolvente, seja literatura clássica ou ficção científica, por exemplo, pode ser uma forma mais eficaz de criar o hábito da leitura.

Além de entreter, esses livros ajudam a desenvolver o cérebro, a memória, ampliam o vocabulário e a percepção de mundo, ao retratar sociedades e experiências diferentes das nossas, mas que refletem aspectos humanos universais. Acredito que o mais importante é que cada pessoa encontre o tipo de leitura que mais gosta e aproveite os inúmeros benefícios, como o aprimoramento da comunicação, o estímulo à empatia, ao pensamento crítico e à imaginação. São habilidades essenciais não só para os estudos, mas para a vida. Quanto às minhas referências, tive o privilégio de aprender com muitos professores incríveis que me inspiram até hoje e, em relação ao conteúdo educacional online, costumo indicar canais como Ciência Todo Dia, Física 2.0, Em Poucas Palavras e TED-Ed.

CCJr – Deseja acrescentar mais algum detalhe?
Brenda Flores: Gostaria de agradecer pela oportunidade de compartilhar meu trabalho e minha visão sobre educação e divulgação científica. Parabenizo a iniciativa do portal, que busca tornar a ciência mais acessível e presente no dia a dia das pessoas. Projetos assim são essenciais para estimular a curiosidade, o pensamento crítico e fortalecer a comunidade científica online. Fico feliz em ver espaços que conectam jovens, educadores e pesquisadores, promovendo o conhecimento como ferramenta de transformação social e inspirando mais pessoas a se interessarem pela ciência!

Siga a professora no Instagram: @profabrendaflores

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