Com o objetivo de vencer barreiras e mostrar que o lugar do público menino é também no ambiente científico, o projeto Meninas na Ciência nasceu dentro de uma escola pública cearense, fruto da inquietação de três estudantes: Ana Evyllen Machado Marques, Larissa Rany Bezerra Vieira e Sarah Alves Rodrigues.

Ao perceberem a baixa representatividade feminina em atividades científicas, como olimpíadas e programas de voluntariado, decidiram criar um espaço de incentivo e acolhimento para meninas que sonham em trilhar caminhos na ciência.
– Sempre que surgia uma oportunidade, a participação era majoritariamente masculina. Vendo essa realidade, sentimos a necessidade de criar um espaço para que meninas também enxergassem a ciência como um lugar possível para elas – relembra Evyllen Marques.
O início foi simples: um clube na própria escola para estimular a participação feminina em projetos científicos. Aos poucos, a iniciativa se expandiu. Mesmo após a formatura das fundadoras, o projeto continuou vivo, motivando novas alunas e alcançando resultados visíveis, como a maior presença de meninas em olimpíadas científicas. A partir dessa experiência, surgiu a decisão de levar o projeto para outras escolas e construir uma rede mais ampla. Hoje, o Meninas na Ciência já conecta jovens de diferentes estados brasileiros, oferecendo oportunidades e promovendo impacto coletivo.
Segundo as fundadoras, a iniciativa se destaca por oferecer não apenas informação, mas também acolhimento. “A ciência ainda é majoritariamente masculina. Criar um espaço seguro é garantir que mais vozes femininas tenham lugar e possam ser ouvidas”, afirma Sarah Alves.
Além da comunidade no WhatsApp, as fundadoras promovem mentorias, videochamadas e encontros de estudo, sempre com foco em democratizar o acesso à ciência. O lema estampado nas camisetas do projeto resume bem sua missão: “Divulgando Ciência, Impactando Vidas”.
– A ciência é, sim, o lugar de vocês. Não deixem que estereótipos ditem seus sonhos. A ciência precisa de vocês — e vocês têm todo o direito de ocupar esse espaço – Evyllen Marques.
Veja a entrevista completa que a Comunidade Científica Jr realizou com as fundadoras do projeto Meninas na Ciência.
- Como surgiu a ideia de criar o projeto Meninas na Ciência?
A ideia nasceu da nossa própria vivência dentro da escola pública. Eu (Ana Evyllen Machado Marques), Larissa Vieira e Sarah Alves percebemos que não havia incentivo para que meninas se engajassem em ciência. Sempre que surgia uma oportunidade, como voluntariado ou olimpíadas, a participação era majoritariamente masculina. Vendo essa baixa representatividade feminina, sentimos a necessidade de criar um espaço que realmente incentivasse as meninas a enxergarem a ciência como um lugar possível para elas. Foi assim que nasceu o Meninas na Ciência.
- Qual foi a principal motivação pessoal de vocês para dar início a essa iniciativa?
O que mais nos moveu foi o desejo de que as meninas da nossa comunidade pudessem ter as mesmas oportunidades que nós tivemos: acesso à informação, portas abertas e caminhos possíveis dentro da ciência. Queríamos que nenhuma menina deixasse de acreditar no seu potencial apenas por falta de incentivo ou de referências.

- Vocês já tinham referências de outros projetos semelhantes ou criaram tudo do zero?
Criamos tudo do zero. No começo, foi muito no espírito de “vamos tentar, vamos fazer”. A ideia inicial era formar um clube para incentivar a participação de meninas na ciência. A partir daí, fomos desenvolvendo estratégias, testando o que funcionava e ajustando o que não dava certo. Todo o processo foi de construção coletiva até chegarmos ao formato que temos hoje.
- Como surgiu a ideia de expandir o projeto para outras escolas?
O projeto nasceu quando estávamos no terceiro ano do ensino médio. Quando saímos da escola, vimos que ele continuou vivo e trouxe resultados positivos, como maior participação feminina em olimpíadas. Então pensamos: por que limitar esse impacto apenas à nossa comunidade? Decidimos expandir para que outras escolas e meninas também pudessem ter acesso a esse incentivo.
- Quais foram os maiores desafios no início do projeto?
No começo, os maiores desafios foram a falta de apoio e de visibilidade. Muitas vezes não tínhamos meninas interessadas em participar, justamente pela ausência de referência. Já para alcançar um público nacional, a dificuldade foi conquistar visibilidade e criar uma rede forte em um cenário inicial de poucos recursos e conexões.
- Como tem sido o impacto do projeto Meninas na Ciência? Como vocês estão ajudando as pessoas?
Hoje, criamos uma rede de apoio em que meninas de todo o Brasil podem se sentir acolhidas e confortáveis para tirar dúvidas, buscar oportunidades e acreditar em seu potencial. Divulgamos olimpíadas, cursos, palestras, eventos — sempre gratuitos, porque sabemos como o fator financeiro pode ser um obstáculo. Também organizamos grupos de estudo, atividades locais e até mesmo produzimos camisetas do projeto com o lema: “Divulgando Ciência, Impactando Vidas”.
Acreditamos que cada menina do projeto é uma Divulgadora Científica, porque o conhecimento não deve parar nela, mas ser compartilhado com sua comunidade.

- O que vocês têm feito? Como acontece? Como meninas podem se beneficiar do projeto?
As meninas não precisam se inscrever formalmente, basta ter interesse em participar. Criamos comunidades no WhatsApp, onde organizamos grupos temáticos, divulgamos oportunidades e oferecemos apoio. Já o voluntariado do projeto funciona por meio de inscrição.
A mentoria acontece de forma direta: seja em grupos, videochamadas ou acompanhamentos individuais, sempre com foco em apoiar cada menina de acordo com sua realidade.
- Vocês já têm histórias de alunas que seguiram para áreas científicas inspiradas pelo projeto?
Ainda estamos no processo de acompanhar essas trajetórias, mas já observamos sinais claros de meninas que decidiram participar de olimpíadas, eventos científicos e se engajar mais ativamente em áreas da ciência depois de conhecerem o projeto. Isso nos mostra que estamos no caminho certo.
- Qual a importância de criar um espaço seguro para meninas explorarem ciência?
É fundamental. A ciência ainda é um ambiente majoritariamente masculino, e muitas meninas só terão coragem de trilhar esse caminho se encontrarem referências, apoio e um espaço onde se sintam respeitadas e representadas. Criar esse ambiente seguro é garantir que mais vozes femininas tenham lugar na ciência.
- Que estratégias vocês usam para democratizar o acesso à ciência e às oportunidades acadêmicas?
Buscamos constantemente parcerias, divulgamos oportunidades gratuitas e ficamos sempre atentas às novidades para repassá-las rapidamente. Nosso objetivo é que nenhuma menina fique sem acesso por falta de informação ou de condição financeira.
- Quais tipos de apoio e recursos as participantes encontram na comunidade online do projeto?
Elas encontram desde divulgação de cursos, olimpíadas e editais até apoio direto para dúvidas, grupos de estudo, incentivo para o Enem e conexões com outras meninas apaixonadas por ciência. É um espaço de acolhimento e de crescimento coletivo.

- Qual seria o “sonho grande” de vocês para essa iniciativa?
Nosso grande sonho é fortalecer cada vez mais a rede, ampliar atividades presenciais e virtuais, levar o projeto para mais escolas e alcançar todos os estados do Brasil. Queremos que o Meninas na Ciência seja referência nacional e que cada vez mais meninas possam enxergar a ciência como um caminho possível.
- Que mensagem gostariam de deixar para meninas que ainda acreditam que a ciência “não é o lugar delas”?
A ciência é, sim, o lugar de vocês. Cada descoberta, cada pesquisa, cada avanço precisa também da visão e da sensibilidade feminina. Não deixem que estereótipos ditem os seus sonhos. A ciência precisa de vocês — e vocês têm todo o direito de ocupar esse espaço.
✍️ Publicado pela redação da Comunidade Científica Jr